Há muitos anos que a diversidade tem sido uma palavra de ordem nos negócios. No entanto, em 2020 muitas organizações tiveram de analisar cuidadosamente a forma como definiam e adotavam a inclusão para autoavaliarem os seus progressos de forma crítica e honesta, ao mesmo tempo que expandiam a sua compreensão do termo. A inclusão abrange uma grande variedade de fatores essenciais para alargar e enriquecer as pools de talento, incluindo a neurodiversidade. Num novo episódio do podcast “Transform Talent”, as anfitriãs Roberta Cucchiaro e Dominika Gałusa falam com Kate Griggs, fundadora e CEO da Made By Dyslexia, sobre como reduzir o desencontro de competências para a Geração Z, a geração que se espera vir a suportar o pior impacto das mudanças no mundo trabalho devido à pandemia. Eis porque é que a ligação entre a dislexia e as soft skills mais procuradas - como criatividade, persuasão, colaboração, adaptabilidade e inteligência emocional - é agora tão importante.
A necessidade de pensar de forma diferente
Como Kate Griggs partilhou, numa era de automatização onde os factos e questões podem ser pesquisados no Google e a ortografia pode ser corrigida com um simples toque no botão, são a criatividade, a imaginação e a intuição que nos distinguem das máquinas, e isso é o Pensamento Disléxico. A dislexia é literalmente uma forma diferente de processar informação, e com essa forma diferente de pensar vem um conjunto de pontos fortes: criatividade, inovação e abstração (capacidade de ver o “quadro geral”). O último Relatório sobre o Futuro do Emprego, publicado pelo Fórum Económico Mundial, destaca como estas competências sociais e emocionais são as mais desejadas e procuradas para os próximos cinco anos. Para as organizações, compreender e valorizar o pensamento disléxico e a neurodiversidade pode ser uma oportunidade para colmatar o crescente desencontro de competências.
Um vasto leque de capacidades
À medida que as empresas enfrentam uma crescente variedade de problemas, precisam de pessoas com competências excecionais em determinadas áreas. Como Griggs explicou, este é o caso das pessoas com dislexia, que têm "picos" de competências que desenvolveram de forma acentuada para serem bem-sucedidas no mundo. Por outras palavras, se algumas pessoas com dislexia se destacam na área de uma soft skill, como por exemplo falar em público, ele ou ela pode, com a prática, potenciar a sua aptidão, a fim de ter um desempenho especialmente elevado nessa área. "O que os disléxicos também tendem a fazer, se realmente se concentram nos seus pontos fortes, é aperfeiçoar e tornarem-se muito melhor neles", disse Griggs. "Portanto, muitas pessoas referem-se à dislexia como uma fonte de superpoderes, o que é uma boa maneira de pensar sobre isso".
Valorizar a diversidade cognitiva
Mais do que neurodiversidade - diferentes formas de processar o pensamento - Griggs prefere o termo diversidade cognitiva, ou diversidade de pensamento. As equipas não devem pensar todas da mesma maneira. No processo de recrutamento, a inclusão significa uma avaliação justa e sem discriminação ou barreiras predefinidas à entrada. As pessoas com dislexia podem ter ideias brilhantes, que serão eliminadas à partida se as avaliações não forem repensadas para incluir a diversidade, a qual pode ser ignorada nas atuais revisões tradicionais dos currículos. Um exemplo de inclusão para a diversidade cognitiva vem da Sede de Comunicações do Governo do Reino Unido, que tem visado as pessoas disléxicas e neurodiversas na sua estratégia de recrutamento, uma vez que a força de trabalho disléxica é particularmente boa a pensar logicamente, a simplificar, a ver o panorama geral, bem como a trabalhar em equipa.
O relatório “Value of Dyslexia” mostra como o pensamento disléxico produz uma criatividade que não poderá ser substituída pela automatização. A inclusão é fundamental porque as forças de trabalho são mais produtivas quando as pessoas sentem que podem trazer os seus talentos para uma equipa e fazer parte dela - e produzir resultados importantes. Ouça mais no podcast.